quarta-feira, 24 de março de 2010

Uma História


Ele era do tipo que pensava em um monte de coisas. Um monte. Não conseguia tomar uma decisão sem pensar em opiniões, repercussões, nos problemas, no tempo, nas coisas. Um monte delas. Se sentou e enquanto esperava que ela chegasse pensou nisso, em coisas, em coisas que acabavam vindo a mente enquanto ela não chegava. Imagens icônicas de romance. Músicas dos Beatles. Primeiros e últimos beijos. Relacionamentos. Quadros. Chuva. Pessoas andando sozinhas em bicicletas feitas pra duas. Isso era uma música? O sol se pondo. A cena da declaração de amor no banheiro em Zack and Miri Make a Porno e o conselho do Stan Lee em Mallrats. Ela demorou mais trinta segundos e ele pensou em pátios de colégio, no péssimo rumo das histórias atuais do Hulk, abraços quentes, ninhos de pássaro e em como não tinha curtido a sextape da Paris Hilton.
Ela chegou. Ele, é claro, continuou pensando. Olhava pra ela e pensava em noites de sorrisos, em pizzas divididas num apartamento grande, em filmes vistos de madrugada durante abraços, em beijos que duram vários minutos. Em carinhos, em papos que atravessariam tardes e durariam horas. Em risadinhas bobas, em uma ou outra bebedeira. Pensava em como estava evidentemente exagerando e precisava de uma coca gelada. Pensava em porque estava pensando em coca se preferia guaraná. Um monte de coisas.
Era complicado explicar pra ela esse monte de coisas, ainda mais enquanto ele não parava de pensar naquele monte de coisas que ele estava explicando. Mas ele tentou e em poucas frases explicou pra ela o que ele estava sentindo, o que ele pensava, e o quanto ele queria que ela sentisse e pensasse do mesmo jeito. Logo depois pediu uma coca (mesmo querendo um guaraná) e ficou pensando e olhando pra ela.
Ela olhou por alguns instantes pro alto, respondeu que não e pegou outra batatinha na bandeja.
Realmente algumas pessoas não precisam pensar tanto assim.

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